quinta-feira, 31 de maio de 2012

Nesse outono, as folhas não caíram o suficiente, mas deixaram uma fina camada do seu marrom-alaranjado no chão. Nesse outono, o vento soprou em sentido contrário ao meu, mas trouxe-me pequenos vestígios do seu cheiro. Nesse outono, a chuva caiu forte apenas uma vez, mas permitiu seus pingos molharem em mim. Nesse outono, expectativas que não tardam a falhar, me decepcionaram outra vez, e tudo aconteceu diferente da minha perspectiva. Vivi incrivelmente de 1/7, mas é nessa pequena parcela que me agarrarei em lembranças, e esperarei. Esperarei pelo meu próximo outono, esperarei pelo meu próximo Maio, até quando eles sentirem a necessidade de voltar. E que voltem 7/7. Meras Expectativas.

Heitor Gabriel

segunda-feira, 21 de maio de 2012


Escrevo e apago.
Já que não consigo peneirar o que venho sentindo.
Já que os arco-íris completos são raros e mais encontrados no interior.
Falo e me calo.
Porque foi em mim que eu encontrei o meu melhor cofre.
Porque não consigo dizer nada, em ninguém.
Então escrevo e apago tentando explicar.
Então falo e me calo tentando esconder.

Heitor Gabriel

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tento entrar nas brechas em que pareço caber. Me desfaço, para que cada partícula do meu corpo se esconda nos mais obscuros cantos, até mesmo entre uma prateleira e uma cômoda. Posso ficar ali por dias, só pra arrancar de mim essa agonia. Sentir somente a respiração adentrar a pele do meu braço em volta do rosto. Rato na piscina. Olhando fixamente para as sombras que passam pela porta entreaberta do meu quarto, e recebendo o vento que corre da minha janela escancarada. Palavras que precisam ser ditas arranham a minha garganta, querendo sair sem o meu consentimento. Mas não, agora mais não. Já passou o tempo em que se brincava de amar, e em que eu te amo era dito com frequência. Me seguro aqui, em meu canto, calado, para que desta vez não seja apenas uma das mais.

Heitor Gabriel

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Escrevi no último papel de bala guardado, a primeira letra do seu nome. Bati até que ele se rompesse, pois queria saber a opinião do universo sobre nós. Reservei-o por décadas, e o elegi o mais importante e o único verdadeiro dentre os mais. Só poderia ser usado na hora certa, e a hora chegou.

           - Não dê muita importância para as coisas que eu falo. Absorva somente 0,1%.


       - E o que eu faço com os outros 99,9? - A não ser que a telepatia fosse comum dentre os seres, nós iriamos conhecer verdadeiramente quem cada um é. Mas, anseio descobrir pelo menos 0,2% de você.


           - Leve a maioria na brincadeira. Menos isso que vou te dizer agora.


E com um beijo selo meu ato. Mergulho nos seus lábios, finos e macios, delirando por sentir a explosão de sensações que um beijo apaixonado pode trazer. E por fim, recolho a minha boca da sua, respirando profundo. E em seus olhos, analiso a reação.


          - Mas você não disse uma palavra. – Argumentou ela.


          - Sério? Pois eu achei que tinha dito tudo.


Escrevi no último papel de bala, bati até que se rompesse, e deu amor.

Heitor Gabriel


“[...]

- Então você mentiu pra mim todo esse tempo?
- A gente é o que a gente sente.


Paraísos Artificiais