segunda-feira, 23 de abril de 2012

Era exatamente 23h19min quando olhou para o relógio. Aquele barulho tão familiar da madrugada sempre o fazendo demorar a dormir. O quê haveria de tão misterioso nele? Mesmo sendo tão repetitivo, era gostoso de escutar. Muitas memórias eram resgatadas ao ouvi-lo, como no dia em que teve sua melhor transa: “Eu agarrava o cabelo dela, sufocante de tanto cheiro, com uma força delicada, fazendo-a gemer de prazer”. O cheiro do tesão no ar misturado com o suor da pele de dois amantes, agora é sempre lembrado quando o som começa a tocar. Flashes de quando ainda era menino e tinha medo do escuro, vinham em seus pensamentos também: “Eu saia correndo para o colo da minha mãe para me sentir protegido”. E por fim, eram passados em sua mente os melhores momentos vividos com seus verdadeiros amigos.

Mas de onde é que vem esse som?” Estava começando a incomodar, por achar que era o vizinho maluco que colocava essa mesma música, que jamais tinha sido ouvida em outro lugar, a não ser ali, em sua cama, quando estava sozinho e pronto para dormir.

Só que mal sabia ele, que o som era simplesmente criado por sua própria cabeça, e gritava todas as noites mais alto do que o barulho dos carros que passavam lá fora. Mal sabia ele que era simplesmente, o som da solidão.

Heitor Gabriel

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